Berço do descobridor do Brasil, a pouco conhecida Belmonte cai no gosto dos turistas que "priorizam as viagens culturais e o contato com a gastronomia local"
Ele descobriu o Brasil e lacrou! Um dos maiores navegadores portugueses – e europeus! – de todos os tempos, se não fosse Pedro Álvares Cabral, pindorama talvez não existisse. Pior: a família real portuguesa teria perdido a cabeça e o Brasil Império sequer teria começado, quanto mais desembocado nessa república das bananas de Dilma e sua moçada. Afinal, qual local melhor para fugir de Napoleão se não o lado de cá do Atlântico? Apesar da sua importante herança histórica, os brasileiros pouco sabem da vida desse desbravador lusitano, cuja biografia tem detalhes vagos e esparsos: sabe-se que veio de uma família nobre colocada em província interior, recebeu boa educação e foi um gajo de renome da alta sociedade, blablablá. Curioso, resolvi investigar a origem do aristocrata dos mares e aportou de mala e cuia na pequena Belmonte, na Serra da Estrela e a 300km de Lisboa, a convite da Pure Portugal Travel, agência situada na capital do país que anda se especializando em conduzir turistas brazucas por este roteiro incomum. Confira o papo exclusivo com Filipe Peralta, responsável pela operação e por fazer o caminho inverso de Cabral, levando a brasileirada de volta às origens.
A vila faz parte da rota das aldeias históricas e se destaca pelas construções em pedra, o que lhe confere ainda hoje em dia um aspecto semelhante ao que tinha no século 12. É repleta de castelos medievais, um dos mais antigos recônditos da terrinha. E, o divertido: tudo por lá é alusivo ao Brasil, a começar pelos nomes das ruas, mas naquele ritmo de além-mar. Por exemplo: pode-se achar uma Avenida Paulista sem congestionamento algum. Com vários museus e monumentos, a cidadezinha inclui duas visitas imperdíveis: o Castelo de Belmonte (da família Cabral) e o Museu do Descobrimento. Ficou com vontade? Filipe resolve tudo direto de seu escritório, que ainda funciona como um bar e restaurante com quitutes e vinhos típicos das aldeias serranas.
Conta para a gente qual é exatamente a proposta da agência e como surgiu a ideia de levar os brasileiros para Belmonte, tão fora do eixo turístico central?
FP: A coisa veio naturalmente porque as opções de turismo local que existem para o mercado brasileiro não fogem muito do tradicional. É nossa costa marítima: o Algarve e os grandes centros, como Lisboa e Porto. A oferta que existe é essa, mas penso que Portugal tem muito mais do que isso. Principalmente no interior, pela questão cultural. A raiz dos brasileiros, principalmente para os descendentes de portugueses, são os naturais de Trás-os-Montes e das beiras. Daí, pretendemos buscar essa memória afetiva, apresentando a terra de Cabral aos brasileiros.
O que Belmonte traz de encanto para os brasileiros e o que faz o passeio valer a pena?
FP: Não nos limitamos aos passeios rotineiros, aos museus. Queremos que os viajantes brasileiros conheçam os costumes e a vida da população local. Fomentamos essa imersão vivencial, ou seja, fazemos as pessoas aprenderem receitas do local, tipo comer o prato que acabaram de aprender a cozinhar. Diga-se lá: a região tem a melhor gastronomia do país e exerce grande influência na vossa, com alguns pratos que foram adaptados por vocês.. Os vinhos são outro ponto relevante, além de outras atividades. Não queremos um turismo só de contemplação, mas sim de participação, de engajamento. Além, claro, da emoção que é resgatar as memórias dos antepassados. Belmonte tem uma diferença de Lisboa, que hoje é uma metrópole moderna. Lá se vive como antigamente. Quem habita as grandes cidades brasileiras vai com toda certeza fazer uma viagem bem diferente.
Que motivo você atribui a ninguém ter apostado nesse roteiro antes? Que público costuma se interessar?
FP: É normal e eu até entendo que os operadores de turismo prefiram alcançar as massas. É mais fácil vender Lisboa, Porto, Algarve e até Coimbra por conta da universidade. Esse nosso tipo de nicho é diferente porque se resume mais às pessoas com interesse histórico e que também possuem apreço especial pela gastronomia. O público é transversal: já tive gente de 25 anos que adorou, principalmente por descobrir como os avós viviam, assim como turistas de idade mais avançada com pais portugueses. E também outros viajantes que não tinham nenhuma ancestralidade portuguesa, mas que optaram por esse roteiro em função da questão histórica.
Como pode ser feito o roteiro com vocês? A brazucada tem de estar na terrinha ou já pode fazer a reservar pelo Brasil?
FP: Nós temos uma página pela qual as pessoas podem se inscrever: www.pureportugaltravel.pt. O serviço que prestamos é desde a chegada a Portugal até o regresso ao aeroporto. Temos vários roteiros que incluem Lisboa, que é sempre muito agradável, e para vários pontos do país. Sempre que possível, indicamos Lisboa mais Belmonte e o Douro, que é simplesmente fantástico! Vir a Portugal e não conhecer onde é feito esse tipo de vinho é um pecado! (brinca).
É tudo lindo, mas, em tempos de euro nas alturas, é possível fazer esses passeios com preços que não‘magoem’ o bolso dos brasileiros?
FP: Falando em euro alto, fiquem tranquilos! Sabemos que tanto lá como cá vivemos um momento espremido e por conta disso tentamos dar uma solução diferenciada, ou seja, para o mesmo programa temos variações de preço com níveis diferentes de alojamento para o viajante decidir. Portanto, se há um grupo de 10 pessoas, pode-se escolher o modo de alojamento para cada pessoa, de hotel a uma casa global, que fica mais barata e é até agradável, por ser uma típica. Assim, todos tem opções…
DICA: para quem quiser apostar nessa aventura histórica, Portugal é mesmo uma maravilha, já que consegue conjugar tanto urbes cosmopolitas, quanto belas praias, recantos cinematográficos e montanhas. Belmonte fica na Serra da Estrela, local que neva no inverno e, nessa época, o encanto com a paisagem é maior ainda. No período do verão, entre julho e agosto, é alta temporada e os preços sobem. E é preciso considerar as temperaturas elevadas. ÁS recomenda viajar na primavera: o viajante vai encontrar melhores preços e um clima bem agradável.