sábado, 9 de janeiro de 2016

Um giro na terra de Cabral no caminho inverso dos navegadores

Berço do descobridor do Brasil, a pouco conhecida Belmonte cai no gosto dos turistas que "priorizam as viagens culturais e o contato com a gastronomia local"


Ele descobriu o Brasil e lacrou! Um dos maiores navegadores portugueses – e europeus! – de todos os tempos, se não fosse Pedro Álvares Cabral, pindorama talvez não existisse. Pior: a família real portuguesa teria perdido a cabeça e o Brasil Império sequer teria começado, quanto mais desembocado nessa república das bananas de Dilma e sua moçada. Afinal, qual local melhor para fugir de Napoleão se não o lado de cá do Atlântico? Apesar da sua importante herança histórica, os brasileiros pouco sabem da vida desse desbravador lusitano, cuja biografia tem detalhes vagos e esparsos: sabe-se que veio de uma família nobre colocada em província interior, recebeu boa educação e foi um gajo de renome da alta sociedade, blablablá. Curioso, resolvi investigar a origem do aristocrata dos mares e aportou de mala e cuia na pequena Belmonte, na Serra da Estrela e a 300km de Lisboa, a convite da Pure Portugal Travel, agência situada na capital do país que anda se especializando em conduzir turistas brazucas por este roteiro incomum. Confira o papo exclusivo com Filipe Peralta, responsável pela operação e por fazer o caminho inverso de Cabral, levando a brasileirada de volta às origens.
A vila faz parte da rota das aldeias históricas e se destaca pelas construções em pedra, o que lhe confere ainda hoje em dia um aspecto semelhante ao que tinha no século 12. É repleta de castelos medievais, um dos mais antigos recônditos da terrinha. E, o divertido: tudo por lá é alusivo ao Brasil, a começar pelos nomes das ruas, mas naquele ritmo de além-mar. Por exemplo: pode-se achar uma Avenida Paulista sem congestionamento algum. Com vários museus e monumentos, a cidadezinha inclui duas visitas imperdíveis: o Castelo de Belmonte (da família Cabral) e o Museu do Descobrimento. Ficou com vontade? Filipe resolve tudo direto de seu escritório, que ainda funciona como um bar e restaurante com quitutes e vinhos típicos das aldeias serranas.
Conta para a gente qual é exatamente a proposta da agência e como surgiu a ideia de levar os brasileiros para Belmonte, tão fora do eixo turístico central?
FP: A coisa veio naturalmente porque as opções de turismo local que existem para o mercado brasileiro não fogem muito do tradicional. É nossa costa marítima: o Algarve e os grandes centros, como Lisboa e Porto. A oferta que existe é essa, mas penso que Portugal tem muito mais do que isso. Principalmente no interior, pela questão cultural. A raiz dos brasileiros, principalmente para os descendentes de portugueses, são os naturais de Trás-os-Montes e das beiras. Daí, pretendemos buscar essa memória afetiva, apresentando a terra de Cabral aos brasileiros.
O que Belmonte traz de encanto para os brasileiros e o que faz o passeio valer a pena?
FP: Não nos limitamos aos passeios rotineiros, aos museus. Queremos que os viajantes brasileiros conheçam os costumes e a vida da população local. Fomentamos essa imersão vivencial, ou seja, fazemos as pessoas aprenderem receitas do local, tipo comer o prato que acabaram de aprender a cozinhar. Diga-se lá: a região tem a melhor gastronomia do país e exerce grande influência na vossa, com alguns pratos que foram adaptados por vocês.. Os vinhos são outro ponto relevante, além de outras atividades. Não queremos um turismo só de contemplação, mas sim de participação, de engajamento. Além, claro, da emoção que é resgatar as memórias dos antepassados. Belmonte tem uma diferença de Lisboa, que hoje é uma metrópole moderna. Lá se vive como antigamente. Quem habita as grandes cidades brasileiras vai com toda certeza fazer uma viagem bem diferente.
Que motivo você atribui a ninguém ter apostado nesse roteiro antes? Que público costuma se interessar?
FPÉ normal e eu até entendo que os operadores de turismo prefiram alcançar as massas. É mais fácil vender Lisboa, Porto, Algarve e até Coimbra por conta da universidade. Esse nosso tipo de nicho é diferente porque se resume mais às pessoas com interesse histórico e que também possuem apreço especial pela gastronomia. O público é transversal: já tive gente de 25 anos que adorou, principalmente por descobrir como os avós viviam, assim como turistas de idade mais avançada com pais portugueses. E também outros viajantes que não tinham nenhuma ancestralidade portuguesa, mas que optaram por esse roteiro em função da questão histórica.
Como pode ser feito o roteiro com vocês? A brazucada tem de estar na terrinha ou já pode fazer a reservar pelo Brasil?
FP: Nós temos uma página pela qual as pessoas podem se inscrever: www.pureportugaltravel.pt. O serviço que prestamos é desde a chegada a Portugal até o regresso ao aeroporto. Temos vários roteiros que incluem Lisboa, que é sempre muito agradável, e para vários pontos do país. Sempre que possível, indicamos Lisboa mais Belmonte e o Douro, que é simplesmente fantástico! Vir a Portugal e não conhecer onde é feito esse tipo de vinho é um pecado! (brinca).
É tudo lindo, mas, em tempos de euro nas alturas, é possível fazer esses passeios com preços que não‘magoem’ o bolso dos brasileiros?
FP: Falando em euro alto, fiquem tranquilos! Sabemos que tanto lá como cá vivemos um momento espremido e por conta disso tentamos dar uma solução diferenciada, ou seja, para o mesmo programa temos variações de preço com níveis diferentes de alojamento para o viajante decidir. Portanto, se há um grupo de 10 pessoas, pode-se escolher o modo de alojamento para cada pessoa, de hotel a uma casa global, que fica mais barata e é até agradável, por ser uma típica. Assim, todos tem opções…
DICA: para quem quiser apostar nessa aventura histórica, Portugal é mesmo uma maravilha, já que consegue conjugar tanto urbes cosmopolitas, quanto belas praias, recantos cinematográficos e montanhas. Belmonte fica na Serra da Estrela, local que neva no inverno e, nessa época, o encanto com a paisagem é maior ainda. No período do verão, entre julho e agosto, é alta temporada e os preços sobem. E é preciso considerar as temperaturas elevadas. ÁS recomenda viajar na primavera: o viajante vai encontrar melhores preços e um clima bem agradável.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Viver no exterior não é para todos! Será que é o momento?




Esses dias, tive a notícia de um amigo: por agora basta Portugal, vou voltar para o Brasil! Mesmo com esse momento de crise econômica e política, o 'gajo brazuca' vai encarar a pátria amada e que não anda assim, muito gentil. Acredito que todo mundo que vive fora, em algum momento se depara com essa questão: voltar ou ficar?! Debruçado sobre o eDreams, só por 'curiosidade', pesquisando a tal passagem só de ida para a nossa terra. Você até programa uma possível data, só que algo acontece, o cenário menos bom muda, o sol volta a sorrir e os sonhos da vida no exterior se renovam. Surge a mesma energia de quando pisamos no avião, na rota do destino tão sonhado. Fiquei pensando... tentando entender esse meu amigo e a sua decisão. Mesmo com o pouco tempo em Portugal, será que ele não está sendo precipitado? Não podia tentar mais e arriscar as últimas fichas nessa empreitada? Os questionamentos são muitos e o ponto chave é: nem todo mundo está pronto para viver no exterior. Viver fora, requer muita coragem, determinação, alegria para suportar os maus momentos, sem ser um chato -acredite, você vai afastar as pessoas- e esperança para acreditar que você chegará aos seus objetivos. O simples fato de atravessar o Atlântico passar por uma imigração, que nem sempre está de bom humor, encarar uma terra nova com seus costumes e hábitos, já é prova que 'és' uma pessoa de coragem. Mas, isso não quer dizer que ela manterá você 'vivo' por aqui se não tiver os outros ingredientes. Passado o primeiro momento de susto e voltando ao normal, ainda com essa máxima na cabeça 'nem todo mundo está pronto para viver no exterior'. Mas, porque ele, assim como eu, tem de viver fora? O cara pode até estar tendo a decisão certa para a sua história de vida. A felicidade e os planos da nossa vida só diz respeito a nós. A minha felicidade não é a mesma que a sua, portanto, essee roteiro quem escreve 'és tu.' Por mais que tenha nesse momento a certeza que aqui ou ali será mais feliz, só embarcando nessa aventura para entender. 

Outro ponto importante: é preciso ter uma meta, um sonho, um objetivo alcançável. Sabe porque? Voltando a esse meu amigo, o que pesou nesse retorno, é que lá, no Brasil, dentro de sua área profissional, há uma grande chance de retomar projetos e voltar a trabalhar, cá, ele não viu isso como uma possibilidade. Perceberam? O 'gajo' vai encarar o país que o Cunha vive e manda! -Pura coragem! Se não fosse esse objetivo, a tal meta alcançável, duvido que ele voltaria. E se fosse o inverso? Há muitos brasileiros que só estão aqui, não tem qualquer objetivo. Trabalham, pagam contas, compram umas roupas bacanas, curtem jantar fora, cair na noitada, fazer algumas viagens e selfies nas redes socias. Mas, se por alguma razão, você se vê sem trabalho, com pouca grana e sem a rotina trivial e acaba por precisar voltar ao Brasil? Será que valeu a pena os anos longe de casa sem ter algo que vá além da experiência de viver no exterior? É normal brasileiros, que nos tempos do auge da crise aqui em Portugal, retornaram a nossa pátria, passado alguns meses, já mostravam a decepção de ver que a realidade do lado de lá, mesmo nos tempos de vacas gordas e gastança do governo, continuava complicada. No início é tudo festa, sela lá ou aqui, e você vai ter de encarar a prova de fogo. Isso ainda é mais cruel para quem quem não tem uma formação, um objetivo traçado. Acreditem, trabalhar aqui num restaurante e ganhar 600€ é bem diferente de trabalhar no Brasil e ganhar R$600. -Ah! Mas se converter dá no mesmo. Não! Não podemos converter se você ganha em Euros e sai do supermercado com 2 sacolas cheias por 20€, ou consegue viajar pela Europa com vôos tão baratos que nem se você fosse do Rio a São Paulo de ônibus conseguiria. Ou, mesmo depois de um dia de trabalho, passar horas em pé no transporte público para chegar em casa. Além da insegurança que amedronta. Enfim, essa qualidade de vida, que para muitos brasileiros sem formação a Europa acaba por ser um paraíso. Afinal, as desigualdades são menores. Você pode viver apertado, mas vive. Isso não pode virar uma rotina, tem de ter um plano (b), caso as coisas mudem. É bom viver nesse lugar, onde todo mundo pode dar uma pinta e tirar onda em Paris sem afetar o orçamento. Cuidado com essas ilusões! Por essa razão, o pessoal acaba por se acomodar. A minha dica é: venha para cá com um objetivo que vá além de trabalhar no que aparecer. Procure um curso, tente entrar para a universidade, (em outra publicação dou as dicas) estude línguas, enfim, construa algo para o seu crescimento intelectual e cultural. Além da oportunidade de conhecer outras pessoas, poderá construir oportunidades. 

Voltando naquela questão -de cada um saber o que é melhor para si- busque aquilo que te faz feliz  e lhe proporcione uma realização pessoal. Se não sabe, pesquise! Tenta se cercar de pessoas em movimento, fuja de gente que não lhe acrescente nada. Estabeleça amigos de diversão e aqueles que são para a vida, a família que você pode escolher, amigos de confiança para contar segredos, projetos e chorar quando for preciso. São essas pessoas que vão estar do seu lado nos maus momentos. Garanto que são poucas, ainda mais num mundo que todo mundo só quer saber de pessoas felizes de bem com a vida e com a lente perfeita. Fiquei ligado e seja exigente contigo mesmo. O tempo não pára! Esse meu amigo, resolveu voltar para o Brasil, já formado e com chance de manter alguma qualidade de vida, por conta da sua formação tenciona investir num mestrado. Se você pensa em vir ou já está por aqui, não deixe de procurar se qualificar ou melhorar as suas competências. Caso precise voltar para o Brasil, seja a idade que tiver, sempre pesa a experiência de viver fora aliada em ter estudado ou feito algum curso especializado. Não entre no mal vício de muitos, deixando a vida levar, sem conduzi-la como tem de ser. 
Durante 1 ano tive de parar a minha vida cá, regressar ao Brasil para apoiar a minha família, além da crise que andava dura, veio tudo de uma vez. Foi duro, mas sobrevivi! Mesmo que as coisas mudem, tem de ter muita determinação para não fugir da sua meta. Pode dar um passo para o lado, nunca para trás. Fui, com à certeza de voltar para dar continuidade aos meus estudos e projetos. Não teve um dia sequer que não sonhasse, voltar sentar à beira do Rio Tejo e vislumbrar a Ponte 25 de Abril e me banhar da bela luz de Lisboa. Voltar ao meu Rio de Janeiro foi vital, até para eu perceber àquilo que realmente eu queria. No fim, 'atrevissiamo', aqui estou, pronto para retomar a minha vida. Nem sempre temos o mapa, então comece a criá-lo! Ele é essencial saber onde se quer chegar. Comece escrevendo numa folha de papel e todos os dias, olhe e visualize o seu projeto. Pense bem antes de tomar a decisão de viver fora, veja se conseguirá manter o foco e energia nos momentos menos bons, e se o objetivo que lhe fará atravessar a linha do equador, justificará todo esforço. Seja o problema que vier, 'vais' se manter fiel ao teu sonho maior? Pense com carinho nisso.  Mesmo que mude de opinião, é sempre válida a experiência. 



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Mandinga Lusitana: Mãe Gi a brasileira que comanda terreiro de Candomblé em Portugal e sonha em ser estilista




Se não existe pecado abaixo da linha do Equador, acima muito menos! Pelo menos na terrinha. Quando se pensa em Portugal, vem logo à mente o ferrenho passado católico dos tempos de Dom Manuel I – O Venturoso –, que instalou a Inquisição mesmo contra a vontade, da melancólica Dona Maria, a louca. De tão carola, a rainha chegou a decretar nove dias de luto quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, adiando negócios públicos e acompanhando a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa inteira. Mas, o que poderia haver além dessa obsessão cristã, se o que predomina são as portentosas igrejas espalhadas pelo país? Muçulmanos circulando pela capital portuguesa não é algo comum de se ver como em outras metrópoles europeias. Depois de séculos de perseguição, judeus também não pulam por ali como em outras cidades do continente. E as religiões africanas… Bom, há uma boa quantidade de cidadãos de origem afro, mas a maioria foi colonizada pelos portugueses e abraçou a fé em Cristo. Na contramão disso tudo, existe Gislaine Silva, a Ialorixá, – ou simplesmente Mãe Gi – a brasileira que lidera um terreiro de candomblé além-mar. Curioso, Fui conversar com a moça – uma simpática paranaense com bochechas proeminentes e sorriso aberto, que também gosta de pintar quadros e ama moda: seu sonho é criar uma grife e desenhar roupa até para o candomblé. Confira!

Gislaine, conta um pouco sobre você e esse seu percurso espiritual. Como você acabou chegando desse lado do Atlântico?

MG: Sou do Paraná, de uma cidadezinha chamada Mandaguari (centro-norte do estado). Meu pai já tinha ligação com a umbanda. Confesso que nunca me liguei nesse lado e até achava que era coisa negativa. Me preocupava com outras questões na minha vida. Esse caminho começou em 2001 quando eu vim do Brasil para Portugal. Chegando aqui, senti uma forte necessidade, uma angustia enorme de saber quem eu era e o porquê de estar nesse mundo. Tipo autodescoberta. Daí, conheci uma casa de candomblé e entrei na espiritualidade pela dor. Aprendi muito, fiquei por lá 11 anos e me tornei uma pessoa muito melhor, com equilíbrio para prosseguir e ajudar as pessoas. A dor acabou se transformando em amor!
Aqui em Portugal tudo tende a ser mais prático. Não é comum nem ver a população consultando horóscopos, mapa astral. Superstições seguem ao largo. Ninguém liga se passa embaixo de escada e não é fato costumeiro na rotina dos habitantes olhar para alguém e dizer que o santo não bate. Podemos dizer que os europeus são céticos e que o candomblé tem pouco espaço por aqui?
MG: Eles não são céticos! Lá no fundo, eles acreditam, ainda mais quando a coisa aperta. O diferencial é que eles são muito mais reservados que os brasileiros, bem mais discretos. Não curtem aparecer. Os portugueses vão à igreja católica, fazem aquela linha e, quando vêm aqui, gostam do tambor, sim! (brinca) Mas, existe um receio de dizer que vão ao “bruxo” (como chamam o líder do ocultismo).
E como você lida com esse aspecto? Dizem que Fernando Pessoa se interessava pelo misticismo de forma declarada em sua época. Um tanto fora do padrão por aqui…
MG: Ah, respeito o jeito deles e acho que tanto para aqueles cuja a vida é um livro aberto quanto para os que levam a fé na encolha, o que conta é a espiritualidade e o coração, as ações.
E como se faz em certos trabalhos e oferendas para usar determinados produtos do Brasil? É fácil encontrá-los ou é preciso dar o jeitinho brasileiro?
MG: Sim, é possível adaptar. Por exemplo: certo dia eu tinha que fazer um trabalho e precisei de uma folha chamada tapete de Oxalá. Não havia. Tive que improvisar e usei o milho branco. Tem outra questão também: quando as coisas são feitas com fé e de coração, eles recebem. Quem são as entidades? São energias! O coração é o que tem mais valor.
Então, predomina a caridade ou como funciona essa coisa de cobrar pelo trabalho?
MG: Ás vezes, com uma vela e um copo d´água eu posso resolver as coisas de acordo com a nossa fé. Eu mesmo trabalho muito na base da caridade, não vejo os Orixás como um meio de comércio. Eu vejo amor, tudo o que vou fazer falo com meu pai Oxóssi e minha mãe Iansã; peço que eles me guiem. Isso prevalece, mas penso que deve vir da pessoa, caso ela queira recompensar pelo bem recebido. Orixá é simples, eles são humildes e eu também tenho de ter. Há muito exagero, sim, mas eu não concordo e sei que há casos e casos. Não acho certo negar ajuda para quem precisa por não ter dinheiro porque ninguém pode descobrir o seu santo para cobrir o meu.
Soube que você tem certa paixão pela moda, além da pintura. Como consegue conjugar a carreira de estilista e Mãe de Santo?
MG: Esse dom foi um presente que eu recebi desde criança. Tive uma infância simples e com pouca beleza. Então, não tive incentivo de ninguém. Aos 10 anos comecei a desenhar para as minhas bonecas, fazia roupa com pedacinhos de tecido. Nunca fiz um curso, mas isso está forte em mim; sou uma estilista e artista plástica, eu vejo e desenho.
E como isso acontece em paralelo à obra no terreiro?
MG: Ao longo da minha vida já contabilizo mais de 4 mil desenhos. Criei uma marca, já tenho tudo alinhado nesta cabeça aqui. Há alguns anos, optei pela minha missão espiritual, a de cuidar das pessoas. Mas a moda não está esquecida. Em alguma hora, isso vai acontecer. Digo mais: mesmo sem estar no meio, dentro das semanas de moda, sou avisada e sei quais são as tendências. De manhã, por volta de umas 5h, vêm as informações e começo a criar. Quando me dou conta, já tenho por aí uns 200 desenhos. Digamos que é quase uma psicografia da moda, rs. Além de vestidos de alta costura, quero produzir roupas para candomblé. Tudo tem seu tempo…
Nessa hora, uma das filhas da casa de Mãe Gi, a portuguesa Lena Madeira, entre no papo:
LM: Já tive em outra casa de candomblé e a experiência não foi muito boa, havia até pensado em desistir. No entanto, a espiritualidade me puxou para cá, onde finalmente estou muito bem, aprendendo coisas novas. Isso aqui é uma escola. Estou conhecendo coisas que não conhecia da religião e pronta para seguir minha vida. Não preciso fazer nada à base do grito e pressão, cheguei a ser muito humilhada na outra casa. Com a Mãe Gi, sou respeitada. Ela é muito diferente, uma mulher muito humana.
Aproveitando a boa energia e a consulta de borla, há alguma carta para o Brasil e alguma previsão que a Mãe Gi possa fazer para 2016?
MG: Olha ainda não tive nenhuma informação, mas eu apelo muito para Xangô, que é o Orixá da justiça. Há muita ganância, egoísmo, um querendo se dar bem a todo custo, em cima do outro. Peço a Oxalá que confira equilíbrio às nossas vidas. Que Xangô venha a interceder pelo povo brasileiro nesse momento político, de tantas decepções e descrenças. O mundo está doente e a culpa é inteiramente nossa.
Minha matéria retirada do site Ás na Manga